Campanha pela doação de medula óssea

Uma luta pelo fim das cotas máximas para doação de medula óssea no Brasil


Portaria do Ministério de 2012 limita o cadastro de doadores por estado brasileiro — o que pode prejudicar a luta contra o câncer

Artigo assinado por Rafaela Carvalho*, com apoio da Change.org

Imagens de crianças carequinhas, olheiras profundas, palidez, luta, e sofrimento. Quem não se comove com histórias e narrativas sobre o câncer infantil e sobre o câncer em geral?

A realidade é difícil e ela não precisa bater na nossa porta para machucar. Basta ousar olhar para o lado, para a dor do outro. O câncer nos rodeia. Encontramos com ele no elevador, no trabalho, no lar de um amigo querido, na panificadora do bairro, na escola dos nossos filhos.

Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), em 2020, apenas no Brasil, serão 78 novos diagnósticos de câncer por hora.

Um número assustador, mas que deve ser lido em voz alta para nos alertar do tamanho do problema.

Muitos de nós fazemos questão de ajudar. Sentimos na pele e no coração o chamado para fazermos alguma coisa, na prática!

O chamado para sairmos dos comentários de “sinto muito, desejo melhoras” e entrarmos com ações reais. Com atos simples, mas de impacto. Auxiliando, de fato, pacientes e famílias que lutam contra o câncer.

Na busca por projetos e ONGs, descobri que a maneira mais fácil e positiva de ajudarmos essas famílias é pela doação de medula óssea.

O transplante de medula é uma possível cura para específicos tipos de câncer e algumas doenças genéticas.

Cadastrar-se como doador de medula óssea é muito fácil, ou pelo menos deveria ser.

Basta comparecer a um Hemocentro credenciado onde, além de algumas informações pessoais, serão coletados 10 ml de sangue (correspondente a uma colher de sobremesa).

Simples, não? O problema é que algumas pessoas estão sendo impedidas de se cadastrarem.

Em 2012, uma portaria do Ministério da Saúde passou a estabelecer um limite anual, para cada estado brasileiro, no número de novos cadastros.

A principal justificativa para essa portaria se baseia em um estudo, conduzido no Brasil, que apontou que o cadastramento ilimitado não é uma estratégia eficaz, já que muitos doadores, de uma mesma região, possuem grupo genético semelhante.

É importante dizer que essa prática vai na contramão do mundo. Nos Estados Unidos, país com o maior banco de doadores de medula óssea do mundo, não há limites para novos cadastros. Pelo contrário; para incentivar a diversidade genética dos doadores, são realizadas ações específicas, visando um público alvo determinado. Contudo, todos, independentemente de região ou raça, são incentivados a se cadastrarem.

A segunda justificativa para a portaria de 2012 seria o preço do exame e do armazenamento da tipagem. No Brasil, cada novo cadastro tem um custo aproximado de R$ 375. 

O curioso é que nossos vizinhos Paraguai e Chile realizam o cadastramento ilimitado. Para isso, eles utilizam um exame, similar ao modelo americano, em que não é necessária a coleta de sangue.

Com a ajuda de um cotonete, é possível coletar material da bochecha do doador. É um exame muito mais fácil, mais rápido e eficiente que o exame de sangue tradicional, utilizado no Brasil. E que, ainda por cima, tem um custo muito menor.

Não é de se estranhar a revolta de milhares de pacientes com câncer que, ao iniciarem campanhas incentivando o cadastro de novos doadores, se deparam com o desafio das cotas. Encarando a triste realidade de verem amigos e conhecidos sendo impedidos de se cadastrarem, uma vez que o teto do estado é atingido.

Após conversar com famílias de pacientes, profissionais no Brasil e no mundo e políticos, iniciei um abaixo-assinado, que será enviado para o Ministério da Saúde, pedindo o fim das cotas para o cadastro de novos doadores de medula óssea.

Conto com a ajuda de vocês para espalharem a notícia e assinarem a petição que criei na plataforma Change.org.

O câncer é, sim, enorme, mas o tamanho da nossa força, união e luta jamais será ultrapassado!

*Rafaela Carvalho é mãe de quatro filhos, escritora e ativista na luta contra o câncer infantil. Autora de mais de cinco livros, sendo dois deles best-sellers da Amazon, a escritora comanda a Editora Matrescência e realiza ações sociais que buscam melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer. 


Texto publicado também no HuffPost.