#LuteEmCasa: ‘A ação coletiva está fazendo a diferença na pandemia’
Ativismo digital é atuação possível para “driblar” o isolamento social

Já são mais de 167,8 milhões no mundo e 7,2 milhões no Brasil. Calma! Esses não são dados sobre infectados ou mortos pelo coronavírus. São números que refletem outro efeito da pandemia: a quantidade de pessoas lutando de dentro de suas casas para fazer a diferença em meio à crise global. As estatísticas mostram o total de apoiadores a campanhas lançadas em todo o planeta por ações coletivas contra a covid-19.
Os dados são da plataforma de petições online Change.org, que lançou movimentos de enfrentamento ao coronavírus em 10 países para dar mais visibilidade às campanhas criadas sobre o tema. O levantamento, divulgado com exclusividade ao HuffPost, mostra ainda que ao menos 4,1 milhões cidadãos em todo o mundo se engajaram em mobilizações e já conquistaram bons resultados. A análise considerou o período entre 3 de fevereiro e 6 de abril.
“A ação coletiva está fazendo a diferença na pandemia”, afirma a diretora-executiva da organização no Brasil, Monica Souza, mostrando que as pessoas estão utilizando a plataforma para se unir e criar mobilizações gigantescas contra uma ameaça que, ironicamente, exige o isolamento e o distanciamento social. “O coronavírus não é maior que a empatia, a solidariedade e o apoio mútuo. Estamos comprovando isso por meio da nossa plataforma”, diz.
Na versão brasileira da Change.org, algumas mobilizações já reúnem um contingente de centenas de milhares de pessoas, sendo que a maior delas – que pede a liberação dos R$ 3 bilhões dos fundos eleitoral e partidário para o combate à covid-19 – ultrapassa a marca de 1,3 milhão de apoiadores. “O coronavírus não é capaz de impedir as pessoas de lutarem de dentro de suas casas em prol da ação coletiva. A única fronteira que ele não pode atravessar é a do mundo online. Por isso, essas campanhas têm chance de gerar impacto real”, afirma Monica.
A “luta” que acontece por trás das telas de celulares e computadores visa a trazer soluções que deem algum alívio a diferentes setores da sociedade durante a crise, como a suspensão temporária da cobrança de contas de consumo, o envio do dinheiro de cartões corporativos dos políticos para a saúde, a taxação de grandes fortunas, entre outras. As mobilizações apostam no velho ditado “a união faz a força” para convencer autoridades do setor público ou privado a adotarem as medidas, assim como foi com a renda emergencial anunciada pelo governo federal.
Força coletiva
A segunda maior mobilização sobre o coronavírus hospedada na Change.org, no Brasil, atingiu, nesta terça-feira (14), o apoio de 300 mil pessoas. A causa, defendida pelo padre Julio Lancellotti, cobra a Prefeitura de São Paulo a fornecer acolhimento e itens de higiene aos moradores de rua. Outra petição, que em menos de um mês já engajou mais de 120 mil brasileiros, cobra as empresas de delivery a protegerem seus entregadores na pandemia.
“Assim como gestos de distribuição de alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade, doações em dinheiro a famílias que perderam sua fonte de sustento, distribuição de álcool gel e máscaras a trabalhadores essenciais, esse tipo de mobilização também é uma forma legítima de as pessoas demonstrarem empatia pelo próximo, é como se elas estivessem dizendo ao outro: ‘Ei, você não está sozinho. Eu me solidarizo com a sua luta, conte com o meu apoio!’, e isso já faz diferença”, opina a diretora da Change.org no Brasil.
Embora sejam criadas fora das ruas, essas campanhas têm poder, segundo Monica, para trazer resultados concretos, pois criam um mecanismo de pressão direta nas autoridades. O abaixo-assinado aberto pelo padre Julio Lancellotti e a petição sobre os entregadores de delivery, por exemplo, já receberam posicionamentos dos respectivos responsáveis. Já a campanha em prol do fundo eleitoral está reforçando intensos debates no Congresso.
Ao menos 30 petições lançadas por brasileiros já conquistaram soluções em meio à crise na saúde e economia. “Apoio mútuo nunca foi tão importante. Esse tempo de pandemia está nos mostrando como fazemos parte de uma coletividade que não combina com egoísmo e como precisamos uns dos outros para sairmos inteiros desta crise”, finaliza Monica.
#LuteEmCasa

O primeiro caso do novo coronavírus foi confirmado no Brasil no dia 26 de fevereiro. Desde então, o número de campanhas relacionadas à covid-19 não para de crescer na plataforma de petições online. O levantamento da organização aponta no País um dado de 2,5 mil abaixo-assinados já lançados sobre o tema com um total de 7,2 milhões de apoiadores.
Para dar mais visibilidade às causas, a plataforma criou um “movimento de enfrentamento ao coronavírus”, que concentra os principais abaixo-assinados em uma página. O movimento, que é semanalmente atualizado, apresenta 202 dessas campanhas, com 3 milhões de assinaturas engajadas. Fora do Brasil, multidões também estão fazendo o mesmo.
Países como Alemanha, Japão, Índia, México, Argentina e Colômbia contam com movimentos para que seus cidadãos possam lutar contra o coronavírus seguros em suas residências. Dados mundiais da Change.org revelam que já foram feitas 81,8 mil campanhas em diversas nações, que acumulam um total de 167,8 milhões de assinaturas.
A diretora-regional da organização na América Latina, Susana Fernández Garrido, vem acompanhando de perto a evolução dessa ação coletiva de enfrentamento à pandemia e destaca que o volume de participação cidadã, medido pela quantidade de petições abertas semanalmente, está 4 vezes maior na plataforma. “Creio que pela primeira vez o mundo está passando por uma crise da mesma maneira e ao mesmo tempo”, comenta.
A análise dessa movimentação permitiu a Susana identificar até mesmo um fluxo no comportamento dos cidadãos ao redor do mundo, conforme a pandemia vai avançando pelas nações. “É impressionante porque as petições são praticamente iguais em todos os países, tanto que podemos vê-las em ondas: primeiro pelo fechamento de escolas, universidades e fronteiras, depois pela necessidade de material sanitário, uso obrigatório de máscaras etc. E, agora, já começam com força as que pedem proteção econômica”, ressalta.
Para a diretora-regional, a participação digital funciona como um canal capaz de contornar a sensação de frustração e impotência diante da crise. “A Change.org permite às pessoas abrirem uma petição para chamar atenção a algo importante que ainda não foi levado em consideração”, enfatiza. “E ao mesmo tempo, possibilita que milhões possam ser parte de uma ação coletiva, gerando soluções com sua assinatura, sem sair de casa”, acrescenta.
Susana lembra que dezenas de mobilizações já obtiveram vitória na América Latina e afirma que a voz dos cidadãos, suas preocupações e reivindicações devem ter espaço. “Hoje, como as pessoas não podem sair às ruas para se manifestar, a Change.org desempenha um papel ainda mais importante como veículo para canalizar as vozes de milhões”, conclui.
Texto publicado também no HuffPost.