Abaixo-assinado questiona Covas e Boulos sobre propostas

Por: Mainary Nascimento
Mais de 15 mil cidadãos estão pressionando os candidatos à Prefeitura de São Paulo – Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (Psol) – a apresentarem propostas detalhadas para a área da saúde. A cobrança é feita por meio de um abaixo-assinado. O tema da saúde foi apontado como o mais preocupante em uma pesquisa informal realizada pela plataforma de petições online Change.org com 1.545 cidadãos de sua base de usuários na capital paulista.
A petição pergunta aos dois candidatos, que disputam em segundo turno ao mandato de prefeito, o que eles pretendem fazer pela saúde pública em São Paulo caso sejam eleitos. O abaixo-assinado foi lançado por Adriana Matos Pereira, coordenadora do Fórum de Saúde da Zona Sul de São Paulo – órgão da sociedade civil que reúne representantes de seis distritos da capital – e integrante do Movimento Popular de Saúde de Cidade Ademar e Pedreira.

Na petição, Adriana destaca que a desigualdade no acesso à saúde é uma realidade em São Paulo, escancarada e acentuada pela pandemia do novo coronavírus. No texto do manifesto, ela aponta problemas como a má distribuição de equipamentos hospitalares entre as regiões da cidade, assim como de leitos de UTIs e a baixa quantidade de UBSs.
“O número de mortos pela covid-19 chega a ser 10 vezes maior nas periferias. Sapopemba, Brasilândia e Grajaú foram os bairros mais atingidos pelo novo coronavírus”, ressalta no abaixo-assinado. “As subprefeituras de Pinheiros, Sé e Vila Mariana, por exemplo, detém 60% dos leitos do SUS em UTI da capital”, completa Adriana, acrescentando, entretanto, que essas regiões juntas não representam sequer 10% da população da cidade.
Outro problema que motivou milhares de pessoas a somarem-se às reivindicações de Adriana é a extensa fila que os paulistanos enfrentam para realizar um exame, cirurgia ou passar por consultas especializadas. “Muitas pessoas estão há meses e até anos nessa espera”, enfatiza no manifesto. “Como pretendem aumentar a capacidade de atendimento e resolver o problema da fixação dos médicos nas periferias?”, pergunta aos candidatos.
A autora da petição conhece de perto os problemas na gestão da saúde pública na periferia de São Paulo, especialmente na região sul, onde mora e atua. Além de coordenadora do fórum, Adriana também já participou da Comissão de Saúde da Mulher, de conselhos gestores de saúde e da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo.
A pandemia do novo coronavírus é um dos pontos de preocupação que não ficou de fora do manifesto direcionado ao próximo prefeito de São Paulo. Depois de alcançar quedas nos números diários de casos e mortes e fechar os hospitais de campanha, a cidade, que foi epicentro da pandemia no Brasil, volta a presenciar aumento nas internações.
“É necessário que existam medidas de contenção e prevenção, pois nos próximos anos conviveremos com as consequências do vírus, com o momento de vacinação e outras possíveis ondas de contaminação. Quais são as ações que serão tomadas pelos senhores candidatos à Prefeitura da mais populosa cidade da América do Sul?”, questiona a cidadã.
Saúde, área que mais preocupa
A pesquisa de opinião realizada pela Change.org, que apontou a saúde como a área que mais preocupa os paulistanos, foi aplicada entre os dias 15 e 16 de outubro através de formulários enviados por e-mail aos usuários da plataforma de abaixo-assinados.
Cada entrevistado teve que escolher três entre nove áreas do executivo municipal como as consideradas mais urgentes. As opções foram: acessibilidade; atenção aos animais; direitos humanos; educação básica; habitação; infraestrutura; saúde; transparência; e transporte.
As pautas votadas como mais importantes aos entrevistados foram em primeiro lugar saúde, com 1.082 votos; em segundo educação básica, com 1.051; e em terceiro habitação, com 670 escolhas. Os três temas que receberam menos apontamentos dos paulistanos foram direitos humanos (285 escolhas); infraestrutura (279 votos); e acessibilidade (242).

A pesquisa possibilitou que os cidadãos apresentassem as demandas que mais os preocupam e a petição abriu espaço para que os postulantes a prefeito pudessem ouvi-los e respondê-los. A equipe da Change.org entrou em contato com as campanhas de Bruno Covas e de Guilherme Boulos para saber o que os candidatos têm a dizer aos paulistanos.
Covas parabenizou a iniciativa do abaixo-assinado “em defesa do aprimoramento da saúde pública” e disse que a linha de ação de sua gestão tem como foco salvar vidas e melhorar o atendimento à população. “A atuação da prefeitura no enfrentamento da pandemia e o balanço dos investimentos já realizados na área, o maior na história de São Paulo, demonstram o comprometimento com a saúde e garantem que o processo de expansão e qualificação vão continuar, a partir de 2021”, diz trecho da nota do candidato tucano.
Covas reconheceu, ainda, pesquisas que apontam a saúde como o principal problema para a maioria dos paulistanos. “Para fazer frente a esse desafio, em junho de 2019, assinamos com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), empréstimo no valor de R$ 1 bilhão, para o Programa Avança São Paulo, exclusivo para a área da saúde. Ainda temos dois terços do montante de recursos para os próximos anos”, destacou na resposta.
O candidato do PSDB ainda aproveitou para ressaltar investimentos da última gestão na Prefeitura, como o aumento do número de profissionais de saúde em atuação e a entrega total de oito novos hospitais até o final do ano, além de citar promessas, como a futura construção de seis novas UPAs, com previsão de inauguração para maio do ano que vem.
Sobre a questão das extensas filas para exames e consultas abordada no abaixo-assinado, Covas informou que elas foram reduzidas e, em alguns casos, zeradas. “Na área da saúde da mulher foram criados 9 novos serviços de referência em mama, diminuindo o tempo de espera por consultas em quase 80%, de 97 dias para 34 dias”, finalizou na nota.
Covas, que tenta o segundo mandato, passou para o segundo turno com 32,85% dos votos. Já o candidato do PSOL foi escolhido por 20,24% do eleitorado.
Procurado para responder, Guilherme Boulos afirmou que “a saúde de São Paulo está abandonada”. Sobre a pandemia – ponto levantado na petição -, disse ser “inadmissível” que a Prefeitura não tenha criado nenhum hospital de campanha na periferia e ainda ter deixado outros fechados ou parcialmente abertos. “Nós vamos inverter prioridades e investir na gestão direta da saúde pública”, prometeu na nota enviada à equipe da Change.org.
Entre as propostas para a área, Boulos afirmou que se for eleito fará um concurso público, no início do ano que vem, para contratar 500 médicos para atuação nas periferias, além de “colocar uma lupa” nos contratos de gestão da saúde que a Prefeitura mantém com as Organizações Sociais, as OSs. “Algumas prestam bons serviços, mas outras sugam dinheiro público sem oferecer um atendimento decente aos paulistanos”, afirma na resposta.
O candidato do Psol também prometeu estender o horário de atendimento das UBSs para o turno da noite e aos fins de semana para ampliar o acesso da população.
Além de São Paulo, também foram feitas pesquisas com cidadãos de Salvador e Porto Alegre. Educação básica foi a pauta eleita como mais preocupante nesses dois municípios. Soteropolitanos e porto-alegrense também lançaram petições para pressionar seus candidatos.
Na capital baiana, a disputa foi encerrada já no primeiro turno, elegendo o candidato Bruno Reis (DEM) com 64,20% dos votos. Em Porto Alegre, seguiram para o segundo turno Sebastião Melo, com 31,01% dos votos, e Manuela D’Ávila (PCdoB), com 29%.
Matéria publicada no HuffPost.

Nós, da Change.org, acreditamos que políticos e empresários ricos não deveriam decidir tudo sozinhos. É por isso que nossa plataforma existe: para que todas as pessoas participem, lutem e sejam ouvidas por meio de abaixo-assinados!
Somos independentes. Todo o impacto que geramos é por meio das contribuições de uma linda rede de solidariedade que cria petições, assina, doa e se mobiliza por um mundo melhor. Ajude-nos a continuar existindo. Doe!