Campanha reforça debate sobre a necessidade da luta antirracista
Por: Mainary Nascimento
A organização Change.org, maior plataforma de abaixo-assinados do país, somou esforços com influenciadores digitais e com a Coalizão Negra por Direitos a fim de intensificar o debate sobre o racismo e convidar a sociedade a participar de uma ação antirracista. A iniciativa resultou na campanha #VidasNegras, que foi lançada em setembro de 2020 e segue ativa.
A campanha conta com inúmeras peças, como três vídeos gravados por influenciadores do movimento negro, um hotsite com quase 150 petições que cobram por justiça racial, além de conteúdos didáticos que foram publicados nas redes sociais da organização.
O elemento central da “Vidas Negras” é um vídeo-manifesto contra o racismo, que conta com as participações da rapper e historiadora Preta Rara, do educador e fundador da Uneafro Douglas Belchior, da militante do movimento por moradia Preta Ferreira, do escritor e pesquisador Ale Santos e da transfeminista e educadora decolonial Maria Clara Araújo.
Na peça, os ativistas apresentam um manifesto com marcos históricos do racismo no Brasil. Ao longo de pouco mais de dois minutos, discorrem sobre a condição da negritude no país, apontando desigualdades em diferentes setores da sociedade com base em dados e contextualização histórica. Os filmes podem ser vistos em www.youtube.com/changeorgbrasil
Preta Rara abre as falas lembrando que a escravidão traficou mais de 5 milhões de vidas da África para o Brasil, num regime que durou 350 anos, mas que perpetua desigualdades até hoje. “Um projeto de abolição questionável, que negava direitos básicos e marginalizava negras e negros, enquanto isso facilitavam a migração para europeus”.
“Como poderíamos prosperar?”, emendam os influenciadores no vídeo em referência a um processo de libertação que não contou com a concessão de terras para plantio, moradia ou acesso a serviços básicos – como saúde e educação – à população que foi escravizada. Na sequência, escancaram números que revelam o racismo em todas as áreas da sociedade.
Apesar de pretos e pardos serem maioria na população brasileira (cerca de 54%), eles ainda são minorias nos cargos executivos e na política, citam os militantes do movimento negro na peça. Para quem tem a pele preta, a representação em maioria acontece em índices como o de maior pobreza, maiores vítimas da violência e mais alta taxa de evasão escolar.
“Dentre os mais pobres no Brasil, 78% das pessoas são como eu, negras”, pontua o educador Douglas Belchior. “A cada 23 minutos um jovem negro é violentamente assassinado no Brasil. Até quando vão fechar os olhos para isso?”, questiona o militante em outro ponto.
“A cada 23 minutos um jovem negro é violentamente assassinado no Brasil. Até quando vão fechar os olhos para isso?”
Além do filme principal, outros dois integram a campanha. Um deles gravado pela mãe do garoto João Pedro, morto durante operação policial no Rio de Janeiro em 18 de maio. No vídeo, Rafaela Pinto e os influencers cobram justiça e chamam os espectadores a se unirem às mais de 3 milhões de pessoas que pressionam as autoridades em um abaixo-assinado.

O terceiro e último vídeo aborda as vulnerabilidades dos povos quilombolas. Gravado por uma jovem liderança e pelos ativistas negros, o filme trata do drama de mais de 10 mil quilombolas ameaçados pelas obras de duplicação de uma rodovia federal no Maranhão.
“Sabemos que infelizmente muitos brasileiros e brasileiras ainda não têm uma compreensão básica sobre os impactos do racismo estrutural, que interfere no acesso a direitos fundamentais para pessoas negras e vai além, minando possibilidades de que desenvolvam seu potencial e até mesmo abalando a autoestima dessa população”, afirma Anne Galvão, conselheira global de Diversidade, Equidade e Inclusão da Change.org.
Os vídeos foram feitos pela Oxalá Produções. Todo o conteúdo da campanha foi produzido e desenvolvido por uma equipe 100% negra e respeitou a quarentena.
“Infelizmente muitos brasileiros e brasileiras ainda não têm uma compreensão básica sobre os impactos do racismo estrutural”
Hotsite reúne quase 150 abaixo-assinados por justiça racial
Outra peça da campanha “Vidas Negras” é um hotsite, lançado pela Change.org, que conta com quase 150 abaixo-assinados sobre episódios recentes de racismo no Brasil. A página, que já engaja 8,3 milhões de apoiadores, tem parceria da Coalizão Negra por Direitos.
A conselheira global de Diversidade, Equidade e Inclusão da Change.org explica que a necessidade de reunir petições antirracistas em uma única página foi sentida pela organização para que pudesse fazer sua parte em dar visibilidade “a esse problema estrutural e facilitar o engajamento do público no debate”. Conheça o hotsite em: https://changebrasil.org/vidasnegras

Anne explica, ainda, que em meio à pandemia e diversos casos polêmicos de racismo que marcaram a segunda metade de 2020, a campanha surgiu para lembrar que uma simples assinatura num abaixo-assinado digital pode contribuir na luta pela justiça racial.
Cresce o engajamento nas pautas antirracistas
Assim como uma onda de mobilizações ligadas à covid-19 “invadiu” a plataforma Change.org no primeiro semestre do ano passado, o site foi “tomado” por uma avalanche de abaixo-assinados relacionados a casos de racismo, na segunda parte do ano. A movimentação foi decorrente do assassinato do segurança afroamericano George Floyd, em junho de 2020.
Um abaixo-assinado que cobra por “Justiça a George Floyd” tornou-se recorde de engajamento no mundo, sendo o Brasil o quarto país que mais aderiu a petição. O caso fez com que muitos brasileiros voltassem seu olhar ao racismo que, diariamente, ceifa vidas negras em sua própria nação.
“Com o fenômeno do movimento ‘Justiça para George Floyd’, que alcançou 19 milhões de assinaturas em nossa plataforma, estamos revendo políticas internas e modos de trabalho para priorizar a construção de uma cultura antirracista, de dentro para fora da organização. A campanha ‘Vidas Negras’ chegou para coroar essa conquista”, explica Anne Galvão.
Ao final de 2020, a Change.org constatou um crescimento de quase cinco vezes de petições dentro da temática de justiça racial, em comparação com o ano anterior. Maior ainda foi o engajamento de usuários da plataforma em torno da causa. Em 2019, foram criados apenas 47 abaixo-assinados com alguma ligação com o tema, recebendo o apoio de 217,4 mil assinaturas. Já em 2020, foram 223, com a incrível aderência de 4,9 milhões de assinaturas.
Acesse e confira outras mobilizações do movimento #VidasNegras: https://changebrasil.org/vidasnegras
Esta matéria foi publicada na 2ª edição da revista digital “Change.org Brasil em Notícias”. Clique AQUI para ler.

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