Não é privilégio! O direito de existir deve ser de todos e para todos

Você tem qualificação, mas mesmo assim suas chances de conseguir um emprego são menores. Você precisa de um atendimento de saúde adequado, mas não há nenhum ambulatório ou profissionais especializados na sua cidade. Os habitantes do seu país vivem, em média, 75 anos, mas você vai superar as estatísticas se passar dos 35. Seus amigos saem à noite, circulam em todos os ambientes, andam livremente nas ruas, mas você, não.
Você não tem os mesmos direitos que os outros cidadãos. Sua realidade é diferente. Você precisa recorrer a empregos informais, como a prostituição, porque são os únicos que te aceitam. Você arrisca sua saúde fazendo terapias hormonais sem apoio médico. Você teme sair às ruas e frequentar determinados lugares porque pode sofrer perseguição, ameaça, agressão. Você sente medo de expressar o seu amor em público ou vestir-se como gostaria.
Esta, em geral, é a realidade vivida por lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queers, intersexos, assexuais e outros integrantes da comunidade LGBTQIA+ no Brasil. O país é um dos mais perigosos e intolerantes do mundo para aqueles e aquelas que não se identificam com o gênero que nasceram, que amam alguém do mesmo sexo, ou, ainda, que possuem qualquer outra variação de gênero ou orientação sexual diferente da maioria.
Para esse grupo, viver é um ato de resistência que passa, todos os dias, pela decisão de lutar ou ser deixado à margem. Na maior nação da América Latina, o ativismo LGBTQIA+ é uma questão de sobrevivência, uma luta pelo direito fundamental de ser, existir e de amar.
Falta ao Brasil leis específicas, como cotas trans nos concursos públicos e no setor privado, que garantam a inclusão e protejam a existência desses cidadãos e cidadãs. O país precisa, urgentemente, parar de largar pessoas à margem apenas por elas serem quem são.
O Brasil também carece de iniciativas que façam não apenas leis saírem do papel, mas funcionarem de maneira efetiva e prática na vida dessas pessoas. Elas precisam estar no centro das discussões políticas, na construção de ações e pautando o debate.
Nações mundo afora estão “anos-luz” à frente do Brasil nesta causa. A Argentina, por exemplo, aprovou em setembro do ano passado um decreto presidencial determinando que pelo menos 1% de todos os cargos e contratos na administração pública sejam destinados a travestis, transexuais e transgêneros. Em julho deste ano, o país vizinho também passou a permitir o registro de pessoas não-binárias no documento de identidade. Enquanto no Brasil, pessoas trans ainda lutam para ter seu nome social respeitado e impresso nos documentos.
Diante dessa realidade, a Change.org se uniu ao Instituto Brasileiro de Transmasculinidades, o Ibrat, e trouxe ao Brasil, no primeiro trimestre de 2021, um programa em defesa dos direitos LGBTQIA+. No decorrer do projeto, o ativismo digital somou-se aos esforços dessa comunidade, ajudando a elevar as vozes de seus membros por meio de quase 80 petições, que engajaram mais de meio milhão de apoiadores em todas as regiões do país.
Pautas urgentes, nas áreas da saúde, cultura, emprego e outras, foram e continuam sendo levantadas a partir deste movimento criado em prol dos direitos LGBTQIA+. Em um momento difícil de pandemia, o ativismo digital estendeu suas ferramentas para ouvir e amplificar as demandas dessa comunidade e levá-las até os tomadores de decisão.
As campanhas criadas no projeto escancaram o quanto a causa precisa do apoio da sociedade e de ações imediatas dos governos, da Justiça e do Poder Legislativo. A bandeira colorida que essas pessoas erguem e abraçam com tanto orgulho não pode ser confundida com nada que não seja a luta por direitos essenciais. Quando o que está em jogo é a existência, não há que se falar em privilégio. O direito de existir deve ser de todos e para todos.
Este editorial foi publicado na 3ª edição da revista digital “Change.org Brasil em Notícias”. Clique AQUI para ler.

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