Descubra como tomadores de decisão recebem e respondem petições

Por: Mainary Nascimento
Você abre o computador ou o celular, acessa a página da Change.org na internet, cria uma petição, compartilha nas redes sociais e convida os amigos para assinar. Mas e depois? Como direcionar a demanda aos alvos corretos? Como encaminhar o pedido às autoridades, políticos ou empresas que podem atendê-lo? O que fazer para obter uma resposta oficial dos tomadores de decisão e quem sabe construir ao lado deles uma saída para o problema?
As petições online são um instrumento legítimo por meio do qual milhões de pessoas, todos os dias, em todos os cantos do Brasil e em inúmeros países, exercem em algum nível seu papel cidadão. Elas funcionam como um meio ativo para o fortalecimento e construção da democracia. Em nove anos de atividades no Brasil, a maior plataforma de petições do mundo, a Change.org, já alcançou e superou a marca de mais de 1.000 vitórias em abaixo-assinados.
Do total de 1.090 casos com final feliz, 143 se deram no primeiro semestre deste ano. Esse resultado se deve, principalmente, a dois fatores: o intenso trabalho que a equipe da organização desenvolve “nos bastidores” e a dedicação e o envolvimento dos próprios criadores das campanhas, que não desistem delas até a vitória. Nem sempre é um caminho rápido, mas algumas estratégias podem ajudar a guiar os peticionários na direção certa.
E como quase tudo na vida em sociedade passa pela política, os tomadores de decisão – do setor público ou privado – são parte fundamental neste processo. Então, se você já pensou em criar uma campanha na internet, unir apoiadores, levá-la às autoridades, receber uma resposta oficial delas e quem sabe ter o seu pedido atendido, veja o que os especialistas em campanhas da Change.org Brasil, Débora Pinho e Marcelo Ferraz, têm a dizer sobre tudo isso.
Coordenadora de campanhas, Débora tem oito anos de experiência na área de comunicação no Terceiro Setor e atua há quase 1 ano e meio na organização. Em seu trabalho diário, se diz guiada pela vontade de fazer parte das mudanças que estão acontecendo no mundo. Já Marcelo está na equipe da Change.org desde 2019. Também formado em Comunicação, acredita que sua missão profissional se une ao seu grande sonho: um mundo justo e igual para todas as pessoas. A seguir, confira uma entrevista com ambos.
Toda petição tem um tomador de decisão, ou seja, uma pessoa, autoridade, empresa, enfim, alguém responsável por resolver o problema apresentado no abaixo-assinado. Chamar atenção e sensibilizar este alvo é etapa fundamental para o sucesso da campanha, mas esse processo não acontece sozinho apenas com a colocação do abaixo-assinado no ar. Diante disso, como fazer um abaixo-assinado ser “ouvido”?
Débora: O primeiro passo é escolher bem a pessoa que é responsável pela sua demanda ao criar o abaixo-assinado ou após, ao editá-lo. É necessário direcionar muito bem a sua campanha a quem, de fato, poderá solucionar o que você está pedindo e colocar o e-mail dessa pessoa no painel de controle do abaixo-assinado para que ela receba por e-mail um aviso de que a campanha foi criada e as metas de assinaturas que estão sendo alcançadas. Depois disso, após receber as assinaturas, é importante começar a pedir respostas para quem decide, tanto por e-mail quanto por telefone. Entre em contato com o gabinete, tente ao máximo contatar essa pessoa, apresentar o seu abaixo-assinado, pedir uma resposta e uma reunião para fazer a entrega das assinaturas da sua petição. Caso este caminho não seja efetivo, busque pressionar quem decide através das redes sociais, o que chamamos aqui de “bombing”, que é a estratégia de atualizar o abaixo-assinado pedindo apoio a quem assinou a sua campanha para que enviem mensagens nas redes sociais de quem decide a sua demanda ou envie e-mails, pressionando, assim, junto com você. Além disso, conseguir que a imprensa divulgue e dê visibilidade à sua campanha sempre ajuda muito, pois faz com que a pessoa que decide se sinta ainda mais pressionada a responder e dar atenção ao problema relatado na petição. A maior regra para se fazer ouvida ou ouvido é não desistir e fazer muito barulho até que a sua demanda seja atendida e encaminhada.
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“A maior regra para se fazer ouvida ou ouvido é não desistir”
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Débora, você comentou sobre inúmeras estratégias para levar uma demanda ao conhecimento das autoridades ou responsáveis. Porém, muitas vezes o cidadão comum não sabe como dar encaminhamento a isso e nem como chegar a um político, por exemplo. A Change.org fornece algum apoio neste processo? Como isso funciona?
D: Sim! A equipe de campanhas da Change.org está à disposição para apoiar as pessoas que criam petições na nossa plataforma, tirando dúvidas, dando dicas a partir da nossa experiência e expertise. Nós entramos em contato diretamente com algumas pessoas semanalmente, mas também mantemos nossos canais de comunicação abertos para atender quando somos solicitados, através de e-mail, WhatsApp e nossas redes sociais.
O suporte da equipe consiste também em ajudar a pessoa que cria a petição, fornecendo ideias e caminhos para receber mais apoio através de assinaturas, chegar em quem decide e ganhar mais visibilidade, fazendo com que a mobilização vá ainda mais longe e gere impacto real.
4. Marcelo, o “Relatório de Impacto 2020” da Change.org mostra que, ao longo do ano passado, foram feitas 12 entregas de abaixo-assinados a tomadores de decisão, com apoio da equipe da organização. Qual é a importância desta ação e qual costuma ser a receptividade das autoridades ou políticos que acolhem essas assinaturas? Pode citar um ou mais casos em que essa atuação trouxe resultados positivos à campanha?
Marcelo: Entregar as assinaturas de um abaixo-assinado é uma forma interessante e eficiente de “romper” as barreiras entre o mundo virtual e o mundo real. Através de uma entrega, a força das pessoas que criam petições se soma a centenas, milhares ou milhões que apoiam e valorizam a iniciativa das campanhas por meio das assinaturas. O momento da entrega, além de formalizar a luta por mudança e demonstrar o impacto causado pela campanha, concede aos criadores de petição um momento junto à pessoa capaz de transformar seu pedido em realidade. É nesse momento que confirmamos nossa maior missão: empoderar a sociedade civil organizada a participar de todo e qualquer movimento por mudança no Brasil e no mundo.
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“Entregar as assinaturas de um abaixo-assinado é uma forma interessante e eficiente de ‘romper’ as barreiras entre o mundo virtual e o mundo real”
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A receptividade de quem toma as decisões tende a ser boa, pois tomamos o cuidado de apresentar essa proposta como uma chance de escutar uma demanda que talvez seja silenciosa e não vista com a urgência que merece. Um exemplo recente de entrega que garantiu força e apoio a uma campanha foi sobre a petição “Defenda o Livro: Diga Não à Tributação”, na qual um senador recebeu as assinaturas e, posteriormente, a campanha foi abraçada pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. O objetivo desta petição é barrar a tributação de livros no Brasil, o que torna ainda mais difícil o acesso à leitura. A petição já conta com mais de 1 milhão e 400 mil assinaturas e segue aberta.
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Quer saber mais sobre como o ativismo digital impacta a sociedade? Acesse o Relatório de Impacto 2020 da Change.org Brasil na seção “Publicações”, na página https://changebrasil.org/
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Ajude os livros a continuarem isentos de impostos no Brasil. Junte-se ao movimento em defesa do livro, assinando a petição no link http://change.org/DefendaOLivro
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O fato de ser pressionado em um abaixo-assinado não significa que o tomador de decisão seja um “vilão”. A petição funciona até mesmo como um auxílio para que um político ou uma empresa tome conhecimento das necessidades dos cidadãos e saiba como atendê-las. E assim, de forma conjunta, a democracia vai sendo aperfeiçoada. Pode explicar como a plataforma fornece espaço para os tomadores de decisão?
M: Nossa principal abordagem com tomadores de decisão é justamente contra a narrativa do “vilão”, uma vez que buscamos o entendimento de que ouvir uma demanda da sociedade civil organizada e propor uma solução deve ser visto como uma grande oportunidade, e não ameaça. Com a democracia representativa, temos a oportunidade de votar e escolher representantes em nossas cidades, estados e país, porém, uma participação mais direta é possível e necessária. Ao receber um abaixo-assinado e tomar conhecimento das propostas, os tomadores de decisão podem trabalhar em conjunto com aqueles que vivenciam de perto os problemas que levaram ao início de uma campanha por mudança.
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“Ouvir uma demanda da sociedade civil organizada e propor uma solução devem ser vistos como uma grande oportunidade, e não ameaça”
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Aos tomadores de decisão, a Change.org oferece a possibilidade de respostas oficiais, garantindo a transparência e tornando todos os passos de uma campanha via petição claros para todos, sem ruídos de comunicação. Isto também é fundamental no processo de mudar o entendimento de “vilão” para “parceiro” na construção de uma sociedade democrática e justa. Quando uma petição se torna vitória, os tomadores de decisão têm sua participação divulgada, tornando pública sua atenção com o caso. A plataforma de cursos Descomplica, por exemplo, recebeu comentários positivos após ouvir e responder a uma demanda de uma aluna surda.
É bastante positivo quando um político ou uma empresa são abertos às demandas da sociedade, mas sabemos que nem sempre é assim. Isso gera uma dúvida importante: o que fazer quando uma autoridade não responde e não dá ouvidos a uma petição? O que um tomador de decisão perde por não responder ou resolver um abaixo-assinado?
M: Quando o poder público ou mesmo a iniciativa privada não escutam a sociedade civil organizada temos uma grande perda de oportunidade para todos, ninguém sai ganhando. A comunicação evoluiu muito na era digital, principalmente com as redes sociais, tornando cada vez mais clara a necessidade de ouvir aqueles e aquelas que chegam até políticos ou empresas.
Assim como a transparência existe em uma campanha encaminhada aos tomadores de decisão, ela também acontece quando os responsáveis não se mostram presentes e dispostos a conhecer, ouvir e solucionar o pedido de uma campanha. Um exemplo: assinantes da petição “Risdiplam para todos os portadores de AME (Atrofia Muscular Espinhal) sem restrição” foram convidados pelo peticionário a pressionar a Anvisa pelas redes sociais, após a falta de resolução do caso. A petição pede o registro e incorporação do medicamento Risdiplam no SUS.
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Os pais de crianças com AME e os portadores dessa doença rara precisam urgente do medicamento. Você pode tornar a reivindicação deles mais forte. Demonstre apoio unindo-se à campanha em http://change.org/Risdiplam
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Qual é o papel do criador de uma campanha em todo esse processo de pressão e sensibilização dos tomadores de decisão? Exceto as grandes ações de impacto citadas anteriormente, como reuniões e entregas de abaixo-assinados, como os criadores das petições podem atuar no dia a dia, em ações menores, para levar a campanha adiante e fazê-la crescer ao ponto de engajar apoiadores e atingir o poder público e/ou privado?
Débora: Quem cria a petição precisa entender que colocar a campanha no ar é o primeiro passo e que o mais importante é não desistir, não desanimar. Muitas vezes, a mobilização é árdua e demora, então as pessoas não podem desistir. Eu sempre falo que o essencial é manter a motivação com o foco na mudança que se deseja realizar, pois quando a vitória vem, compensa todo o tempo e esforço demandados. Ao longo da campanha, quem cria uma petição precisa continuar compartilhando sobre a sua mobilização nas redes sociais, manter o abaixo-assinado atualizado, contando aos apoiadores o que está acontecendo e pedindo apoio. Além disso, a criatividade para fazer ações que chamem a atenção da sociedade, da imprensa e de quem decide também tem um papel crucial. Cada petição tem a sua particularidade e as suas possibilidades. É possível fazer uma projeção em prédios na sua cidade, um ato, uma manifestação, um twittaço. Enfim, o céu é o limite para quem quer fazer a mudança acontecer de verdade.
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“O céu é o limite para quem quer fazer a mudança acontecer de verdade”
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Esta matéria foi publicada na 3ª edição da revista digital “Change.org Brasil em Notícias”. Clique AQUI para ler.

Nós, da Change.org, acreditamos que políticos e empresários ricos não deveriam decidir tudo sozinhos. É por isso que nossa plataforma existe: para que todas as pessoas participem, lutem e sejam ouvidas por meio de abaixo-assinados!
Somos independentes. Todo o impacto que geramos é por meio das contribuições de uma linda rede de solidariedade que cria petições, assina, doa e se mobiliza por um mundo melhor. Ajude-nos a continuar existindo. Doe!