Covid-19: “Ninguém estará salvo até todos ficarem salvos”

Por: Mainary Nascimento
Um abaixo-assinado online lançado pela organização Amref Health Africa engaja apoiadores em cinco países para que haja igualdade na distribuição das vacinas contra a Covid-19 no mundo. A campanha, que está hospedada na plataforma Change.org, já reúne quase 200 mil apoiadores e alerta que “ninguém estará salvo até todos ficarem salvos”.
A mobilização foi formada depois que a variante Ômicron, identificada primeiramente no continente africano, começou a se espalhar pelo mundo. “Se nós não acabarmos com a distribuição desigual das vacinas, a África será o último lugar a controlar a pandemia da Covid-19, ocasionando um grande ônus econômico e social, e sendo um terreno fértil para novas variantes”, destaca a organização internacional do texto do abaixo-assinado.
Autora da petição online, a Amref Health Africa é a maior organização internacional não-governamental de desenvolvimento na área da saúde, com sede na África. “A corrida por vacinas foi baseada na acessibilidade financeira e não na equidade”, denuncia a organização. “Nossa petição representa os africanos afetados pela injustiça das vacinas”, acrescenta.
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“Nossa petição representa os africanos afetados pela injustiça das vacinas”
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A campanha se posiciona contra a distribuição desigual dos imunizantes pelo mundo e diz que atrasar essas entregas significa, na realidade, negar a vacinação para parte da população, como a africana. Um dado de outubro do ano passado, utilizado pela Amref Health Africa no abaixo-assinado, aponta que, apesar de mais de 6,86 bilhões de doses de imunizantes terem sido administrados globalmente, a África recebeu apenas 256 milhões.
Ainda seguindo os mesmos dados, o total distribuído para o planeta seria suficiente para vacinar 44,6% da população mundial. E, embora a África represente 17% dessa população, recebeu somente 3,7% dessas doses. “Distribuição desequilibrada”, afirma a ONG.
“Apenas 15 países africanos passaram uma taxa de vacinação de 10%, que era a meta de cada país até setembro. Ao mesmo tempo, a taxa de vacinação do Reino Unido é de 67%, da União Européia 62% e dos EUA 55%”, compara a organização ainda com dados de outubro.
Criada no dia 8 de dezembro do ano passado, a petição online ganhou versões em outros idiomas, como inglês e português, e foi divulgada pela plataforma Change.org em cinco países: Quênia – onde surgiu originalmente -, Brasil, Itália, Índia e Espanha.
Sem acesso
Na petição, a organização Amref Health Africa dá nome a um cidadão africano, voluntário de saúde comunitária, que estava com o direito de acesso à vacinação negado, ou seja, que ainda não havia recebido o imunizante devido à desigualdade na distribuição.
“Eu sou Fatuma Asteb, um voluntário de saúde comunitária. Sou responsável por 100 lares com um total de 790 pessoas. As instalações de saúde da minha comunidade não têm vacinas da Covid-19 suficientes. A oferta é muito pequena, mas muitos membros da comunidade não estão totalmente vacinados”, declarou o voluntário à organização não-governamental. Se conseguirmos mais vacinas, ficaremos muito felizes”, completou.
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“Se conseguirmos mais vacinas, ficaremos muito felizes”
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Para exemplificar a injustiça na distribuição global dos imunizantes, a ONG elenca no abaixo-assinado alguns fatos que demonstram a falta de equidade. Entre eles é abordado o acúmulo de pedidos antecipados em estoque feitos por países de alta renda, além da falta de dinheiro para que os países de baixa renda possam competir em um mercado aberto.
“As estimativas indicam que os países de baixa renda precisam aumentar seus orçamentos atuais de saúde em quase 67% para que possam vacinar 70% de sua população contra a Covid-19! Não é defensável!”, indigna-se a Amref Health Africa no abaixo-assinado.
Como solução para colocar fim ao atraso da chegada de vacinas aos países de baixa renda, a Amref Health Africa apresenta algumas reivindicações. A organização pede o fim das pilhas de estoque em países ricos antes que as pessoas na África e em outras partes do mundo também tenham sido vacinadas, como forma de poder salvar milhares de vidas.

“Tanto os fabricantes de vacinas quanto os países com estoques de vacinas deveriam priorizar e acelerar as doações de doses para a COVAX, e recomeçar a dar seu apoio para garantir o acesso equitativo às vacinas da Covid-19 em todos os países”, ressalta a ONG.
Sobre a distribuição de doses de reforço, a campanha da Amref Health Africa opina que, no lugar, deveria ser priorizado o abastecimento dos primeiros imunizantes no continente africano. “Os países de alta renda deveriam se abster de distribuir doses de reforço e, em vez disso, compartilhar o fornecimento de vacinas com os países africanos para permitir que as pessoas mais vulneráveis do mundo possam ser vacinadas”, explica no texto da campanha.
Além disso, a entidade não-governamental cobra a aceleração no compartilhamento dos imunizantes entre os países, bem como de licenças, tecnologia e know-how.
“Em meio a esta crise global, é insondável que os grupos farmacêuticos não tenham feito mais para compartilhar as ferramentas que impulsionariam a fabricação para a África”, desabafa. “Fornecer pessoal essencial, know-how e requisitos técnicos aceleraria enormemente os processos de produção doméstica e salvaria vidas”, complementa.
Por fim, a entidade chama atenção para que a África nunca mais seja tão dependente de outros países para o fornecimento de suprimentos médicos que salvam vidas, desde equipamentos de proteção individual (EPI) para os trabalhadores da saúde até a realização de pesquisas, desenvolvimento e fabricação local de diagnósticos, tratamentos e vacinas.
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Quer ajudar a levar mais longe o apelo dos países africanos pela vacinação? Então, junte-se a essa campanha assinando a petição em: http://change.org/VacinaParaTodoMundo
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Pandemia e vacinação pelo mundo
Segundo dados da “Our World in Data”, o planeta supera 400 milhões de casos de infecções pela Covid-19. O total de mortos já passa de 5,7 milhões. Com o avanço da vacinação pelo mundo, a esperança de tempos melhores se renova para o ano de 2022. Pelo menos 10,2 bilhões de doses de imunizantes já foram aplicadas. O dado de pessoas totalmente vacinadas gira em torno de 4,2 bilhões, ou seja, 54,3% de toda a população global.*
*Levantamento feito em 9 de fevereiro de 2021.
Esta matéria foi publicada na 4ª edição da revista digital “Change.org Brasil em Notícias”. Clique AQUI para ler.

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