Fe Cortez, influencer e ativista pelo meio ambiente, compartilha experiências

Por: Mainary Nascimento
Lutar por uma causa e fazer a diferença na sociedade é desejo de todo mundo que sonha com um mundo melhor. Algumas pessoas levam esse sonho tão a sério que até se tornam ativistas e influenciadoras, lançando movimentos que impactam vidas e o planeta.
Mas será que é preciso se tornar um mártir ou ser como Gandhi, Malala ou Gretha Thunberg para se mobilizar por uma causa e engajar pessoas nela? Será que as pequenas ações, os pequenos gestos, podem contribuir para transformar realidades e deixar legados?
Nesta 6ª edição, a revista “Change.org Brasil em Notícias” publica uma entrevista exclusiva com a ativista ambiental, comunicadora, palestrante e idealizadora do movimento “Menos 1 Lixo”, Fe Cortez, que contará um pouco sobre sua vivência no mundo do ativismo.
Por quatro anos, Fe foi defensora da campanha “Mares Limpos”, da ONU Meio Ambiente, e conselheira do Greenpeace Brasil. Em 2021, lançou seu primeiro livro: “Homo Integralis, uma Nova História Possível para a Humanidade”, da editora Leya Brasil. A ativista já recebeu premiação como personalidade e influenciadora de sustentabilidade e está constantemente na mídia e nas redes sociais tratando desta causa e mobilizando pessoas.
Com propriedade para falar sobre o tema, Fe esclarece as principais dúvidas de quem tem vontade de se mobilizar por algo, mas não sabe muito bem por onde começar. Os anos de vivência no ativismo ambiental e nas redes sociais, fizeram dela uma influenciadora capaz de engajar e motivar muita gente a transformar o mundo através de pequenos gestos do cotidiano.
Confira, a seguir, a íntegra da entrevista com a Fe Cortez. Aproveite as dicas valiosas da influenciadora para dar início à sua própria mobilização, saber como reunir gente em prol daquela causa que toca o seu coração e, especialmente, para acreditar no poder da mudança.
Fe, você idealizou um movimento – o Menos 1 Lixo – que incentiva as pessoas a mudar pequenos atos rotineiros visando a construção de um mundo mais sustentável. Como a causa ambiental despertou o ativismo em você? O que te fez abraçar essa causa?
F: Assisti “Trashed”, um documentário que mudou a minha vida e me fez entender que eu sou parte do problema. E que não adiantava eu esperar que a solução viesse miraculosamente de Deus ou de alguém que fosse se mobilizar, eu precisava fazer parte da solução. Eu acho que eu me torno ativista no momento em que eu percebo que a gente precisa ser a mudança que a gente quer ver no mundo. E isso ultrapassou apenas a minha vida pessoal, o meu íntimo, quando eu entendi, decidi, que eu poderia criar uma plataforma que levasse essa conscientização para outras pessoas. Dessa forma eu estaria agindo, colocando a minha energia, o meu amor, o meu trabalho, para que outras pessoas despertassem para isso, que é a grande causa-mãe, que é a gente se reconectar com a natureza e fazer possível a vida aqui.
A causa ambiental me despertou isso, me despertou muitas coisas, mas essa dor que eu sentia vendo o que a gente está fazendo com Gaia [nome dado à Terra na Teoria de Gaia, que afirma que o planeta é vivo], me incomodou tanto que eu tive que fazer alguma coisa. Eu tive que agir, me tornar uma ativista.
“Eu precisava fazer parte da solução”
O movimento Menos 1 Lixo engaja hoje, somente no Instagram, 634 mil pessoas. Na sua conta pessoal, você tem mais de 70 mil seguidores. É um público enorme sendo influenciado e mobilizado em prol da causa que você acredita e defende. De que forma você utiliza esse potencial e poder de engajamento que as redes proporcionam?
F: As redes sociais, hoje, para mim, são o lugar onde a gente engaja essa comunidade, levando para essa comunidade justamente esse conteúdo. Trabalhando numa linguagem simples as informações e o que a gente acha que tem que ser visto e que as pessoas precisam saber.
Então, a gente usa justamente o poder das redes sociais, que é você conseguir falar com tanta gente, para falar aquilo que a gente acha que é importante falar. E eu acho que por conta da nossa linguagem, e do nosso conteúdo, claro, mas a forma como a gente fala sobre isso, a gente tem tantos seguidores, tanto engajamento, porque a gente tenta levar de uma forma fácil, acessível, para que um grande número de pessoas consiga entender isso de forma muito simples, de forma muito direta. No Menos 1 Lixo e no meu perfil @fecortez, estamos o tempo todo levando essas informações para que as pessoas ajam de forma diferente na vida delas e se engajem nessa causa para além das redes.

Conheça os conteúdos da ativista e influenciadora em seu perfil pessoal no Instagram @fecortez e na página do movimento @menos1lixo
Fe, na pergunta anterior, falamos um pouquinho sobre como as redes sociais podem ser importantes aliadas de grandes movimentos. Aqui na Change.org, testemunhamos um fenômeno parecido: milhares, às vezes até milhões de pessoas, que assinam uma petição para reivindicar algum direito, sugerir uma nova lei ou política pública, manifestar opinião sobre alguma pauta ou, ainda, levantar bandeira em defesa de alguma causa. De que forma você acredita que as petições contribuem para o ativismo digital?
F: Eu acho que as redes sociais aproximaram muito as pessoas desse dever, direito, responsabilidade e poder cidadão. Então, quando alguém cria uma petição online, é muito mais simples conseguir atingir várias pessoas usando o próprio algoritmo, as buscas, os públicos de interesse, os interesses daquelas pessoas que têm a ver com aquilo que você quer mudar. As redes sociais aproximaram essas distâncias, nesse sentido de conseguir juntar muitas pessoas, milhares, milhões de pessoas, que seria muito difícil você juntar presencialmente para que elas pudessem se engajar e conseguir fazer alguma coisa.
Eu acho que a petição online dá uma sensação de poder para as pessoas, as redes devolvem esse poder para elas, porque, na verdade, se a gente se organizar, a gente consegue transformar a sociedade. Só que a gente é muito desorganizado, a gente consegue conviver fisicamente com poucas pessoas, não são milhões, são centenas ou milhares no máximo. Então, eu acho que usar o digital como ferramenta para você encontrar os grupos e conseguir exercer esse poder cidadão, esse direito, esse dever, essa responsabilidade, é muito maravilhoso.
“A petição online dá uma sensação de poder para as pessoas”
Como ativista do meio ambiente e influenciadora referência neste tema, você costuma apoiar petições sobre o meio ambiente na internet? Como é a experiência?
F: Eu assino várias petições. Inclusive, a gente tem no “Menos 1 Lixo” um case muito interessante que foi a lei do canudo no Rio de Janeiro, de proibição de venda e distribuição de canudo plástico. Ela estava aprovada em todas as instâncias da Câmara dos Vereadores, faltava apenas o prefeito sancionar essa lei. E aí a plataforma “Nossas”, que também é uma plataforma de ativismo, entrou em contato com a gente e pediu para a gente divulgar uma petição para coletar assinaturas para pressionar o prefeito a aprovar essa lei. A gente conseguiu com eles coletar muitas assinaturas, milhares de assinaturas, e o Marcelo Crivella assinou a primeira lei de proibição de venda e distribuição de canudos plásticos no Brasil, que, em termos da quantidade de lixo, não é representativa, mas em termos do simbolismo do que isso quer dizer, as pessoas terem noção e entenderem que elas podem se manifestar para dizer que não querem tanto descartável e perceber outros descartáveis na vida, foi muito importante.
Fe, muitas pessoas têm vontade de lutar por alguma pauta, se unir em movimentos e liderar ou participar de mobilizações. Entretanto, algumas desistem por achar que é difícil, que não vai dar certo ou que não são capazes de mudar o mundo sozinhas. Como alguém que muda o mundo todos os dias a partir de pequenas atitudes, o que você diria para incentivá-las? Como elas podem engajar os outros na causa em que acreditam?
F: O mundo sempre foi mudado por pessoas, são pessoas que mudam o mundo. Não é um poder mágico que vem do céu, um extraterrestre ou uma baleia que muda o mundo. São pessoas. Então, por que a gente acha que a gente não consegue mudar o mundo? Porque é interessante para o sistema que a gente ache isso, que a gente é menor, que a gente não tem poder, mas sempre é através da ideia de uma pessoa que as mobilizações acontecem.
Ninguém muda o mundo sozinho, isso também é um outro fato. Mas é a partir da iniciativa de pessoas, de indivíduos, que coletivamente a gente vai mobilizando. E o que eu digo para as pessoas é que todo mundo hoje, desde sempre e hoje fica mais claro, influencia as suas próprias redes, elas podem ser de milhões, de milhares, de centenas ou de dezenas de pessoas, mas a gente só por existir já está influenciando.
Se a gente tiver consciência de que a gente pode intencionar qual influência a gente quer ter e como a gente pode ser o exemplo ou articular e mobilizar em torno daquilo que a gente realmente acredita, a gente vai descobrir que temos esse poder, todo mundo tem esse poder, em escalas diferentes, mas é sempre a partir do indivíduo que começa.

Às vezes, você vai começar uma coisa e quando você começar não se prenda a quem vai atingir, quantas pessoas vai atingir. Eu comecei o “Menos 1 Lixo” como um projeto pessoal porque eu estava muito incomodada e não conseguia mais viver sendo a mesma pessoa que eu era antes. Aí, eu resolvi como projeto pessoal criar um blog e chamar os meus amigos para falarem sobre aquilo. Por acaso, os meus amigos eram celebridades, o que deu uma audiência maior ao projeto. Mas eu comecei como uma pessoa normal, que escreve um blog, falando sobre aquilo que está incomodando e trazendo informação, porque eu via que as informações sobre a pauta ambiental eram muito específicas para um público que já conhecia aquilo, já era letrado naquele assunto, e eu queria levar para quem não conhecia.
Eu não comecei esperando nada, eu não comecei imaginando nada, eu não comecei achando que eu poderia mudar alguma coisa gigante. Eu comecei assim: “eu não consigo mais ser a mesma pessoa e ficar com aquilo dentro de mim. Eu vou mudar e eu quero fazer com que outras pessoas também se inspirem em fazer pequenas mudanças”. Então, eu acredito muito no poder dessas pequenas mudanças para elevar nossa consciência de que também temos um papel maior como cidadãos nessa sociedade e que o mundo vai ser mudado através da iniciativa de pessoas que vão ganhar corpo, que vão ganhar mobilização e é assim que a gente vai transformar.
“É a partir da iniciativa de pessoas, de indivíduos, que coletivamente a gente vai mobilizando”

Fe, vamos terminar falando sobre ações positivas em prol da causa que você defende: o meio ambiente. Como as pessoas que estão lendo essa entrevista podem fazer a sua parte para a construção de um mundo mais sustentável? Mesmo sem ser grandes ativistas ou influenciadoras, como elas podem ajudar a defender o meio ambiente?
F: Eu acho que tem duas coisas que as pessoas podem começar a fazer hoje. Primeiro, repensar sobre os seus próprios hábitos de consumo. Escolher como começar uma jornada: o que é possível para você hoje? É trocar o copo descartável pelo reutilizável? É trocar o shampoo líquido por shampoo sólido? É mudar o seu produto de limpeza para um produto de limpeza natural? Começa. Porque quando você começa e não desiste, mesmo que seja uma coisa que você ache muito pequena, aquilo está transformando a sua consciência e vai te fazer ter uma outra lente sobre a vida. E aí você vai ver que você vai levar aquela mudança para outras áreas. Para isso, essa mudança precisa ser possível e ela precisa ter persistência e consistência. Então, esse é o primeiro ponto.
O segundo ponto eu acho que é fazer um grande trabalho de autoconhecimento. A crise que a gente vive hoje é uma crise de percepção, é a lente como a gente enxerga o mundo. E só a gente mergulhando na gente mesmo, e entendendo a gente e entendendo porque a gente está tão desconectado da natureza e da nossa própria natureza, que vamos conseguir repensar isso e transformar a nossa relação com a natureza e a nossa relação com a gente mesmo. Então, é muito importante esse trabalho do autoconhecimento.
Por último, eu queria chamar, coletivamente, para que a gente se conecte com as nossas inteligências espirituais. E o que são essas inteligências espirituais? A gente é conectado com o universo, com o cosmos e com todos os outros seres. Essa conexão se dá pelo coração, a gente sente alguma coisa diferente quando estamos na natureza, quando abraçamos uma árvore. E a gente tem uma capacidade de intuição muito forte, todos nós. Isso é real, isso faz parte da nossa vida.
O meu convite aqui é para que a gente comece a ser guiado por essa intuição, porque ela está ali falando pra gente o que a gente precisa fazer para regenerar a vida. A intuição trabalha a favor da vida, de regenerar a vida, daquilo que vai ser melhor para todos os seres que habitam esse planeta. A intuição não está na razão, não é racionalizar, é a gente começar a olhar os nossos sentimentos, e aqueles insights, aquelas coisas, aquelas ideias que vêm, e seguir isso.
Eu criei o “Menos 1 Lixo” ouvindo a minha intuição. Eu fui fazer o primeiro business plan, o plano de negócio, três anos depois de ele existir. Eu não o criei pensando em quanto eu ia ganhar, quanto eu ia faturar. Eu fui fazendo porque ouvi o meu coração, o meu coração tava me pedindo muito aquilo. Eu sinto que é um momento do mundo que a gente precisa se conectar com essa espiritualidade. E a espiritualidade não tem nada a ver com religião, a espiritualidade é essa conexão da gente com a gente mesmo e com esse grande mistério, eu gosto de chamar assim, esse grande mistério e com a natureza. Se a gente conseguir ouvir essa voz e se conectar, a gente tem uma grande chance de sair desse lugar que estamos, porque justamente o lugar que a gente está, estamos por um excesso de atenção e valorização só do racional, só da mente. A gente precisa se conectar com as nossas outras nossas inteligências.
“Essa mudança precisa ser possível e ela precisa ter persistência e consistência”
O “Menos 1 Lixo” é um movimento e negócio de impacto que promove o ativismo e práticas sustentáveis para pessoas e empresas. O copinho retrátil de silicone, que representa o movimento, é pioneiro no Brasil e foi precursor no segmento de produtos reutilizáveis no País. Conheça mais no site https://www.menos1lixo.com.br/ ou no Instagram @menos1lixo
Esta matéria foi publicada na 6ª edição da revista digital “Change.org Brasil em Notícias”. Clique AQUI para ler.

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